18 de julho de 2014

Uma nova Aventura

(foto retirada da internet)
 
Afastada há alguns meses do blog, regresso para dar novidades! Ora esta ausência tem um forte motivo que passo a explicar.

Dias antes do meu suposto regresso a Maputo, tive a melhor surpresa da minha vida, vou ser Mãe! Uma mistura de sentimentos, receios… Uma vez que esta não é a minha primeira gravidez, e todas as que passei foram não evolutivas… Eu e o meu marido passámos 5 anos numa luta constante e em Janeiro de 2013 tivemos a pior das notícias, seria praticamente impossível que voltasse a engravidar, mesmo com algum tipo de tratamento. Desolados, mas sempre a acreditar que talvez um dia fosse possível e sempre pensámos que se tivesse que acontecer, um dia acontecia. Nesse mesmo ano foi quando surgiu a oportunidade de irmos para Moçambique e não podia ter vindo em melhor altura! Mudámos de país, viajámos para outro continente, começámos uma nova vida, conhecemos novas pessoas e toda esta mudança nos fez muitíssimo bem. E foi com uma enorme surpresa que soubemos que estou à espera de um bebé! Sendo uma gravidez que requer alguns cuidados e sempre sob vigia, fiquei “retida” em Portugal e só voltarei a Moçambique no próximo ano.

Nas últimas semanas tudo à minha volta são borboletas e purpurinas! As maravilhas de ser mãe pela primeira vez, os desafios de uma nova jornada que apenas se inicia. Tudo é uma aventura para mim e para o meu marido e estamos a adorar! Já nos sentimos Pais, como é que é possível que um ser ainda tão pequenino nos provoque já emoções tão grandes?

Cada dia é uma meta percorrida e estou ansiosa que chegue a altura de o/a ter nos meus braços!

África mudou a minha vida!


31 de março de 2014

Depois dos Trinta


 
Cheguei a Lisboa na 6ª feira e Sábado foi o meu aniversário. Neste post não vou escrever sobre Moçambique, mas antes uma retrospectiva que dei por mim a fazer depois dos meus trinta anos e que decidi partilhá-la aqui.

A maneira como tenho vivido este dia vai sendo diferente ano após ano. Menos efusiva mas mais enriquecedora. Menos festiva mas mais valiosa. Enfim, aos 18 anos preparava a festa com 2 meses de antecedência. Aos 25, fazer anos era sinónimo de jantarada com os amigos e saída obrigatória com direito a brindes e dançar a noite toda. Aos 30 a mesa de amigos fica mais restrita e as conversas prolongam-se noite dentro entre risadas e boas recordações. E assim vai sendo ano após ano. Este foi uma boa surpresa e tive um dia e noite muito festivo com direito a muitos brindes e muita "alegria" à mistura!

Fazendo uma análise dos projectos de vida a que me propus. Constato que os sonhos que queria ter alcançado aos trinta, chegaram mais tarde e alguns ainda não chegaram. A visão que tinha do amor é diferente, a vida ensinou-me que no que respeita a sentimentos nada pode ser exigido, ou se tem ou não se tem e só podemos dar aquilo que temos. No campo amoroso penso que acertei à primeira e quero que este amor exista sempre!  

No que respeita a amizades, depois dos trinta, as que permanecem na minha vida são valiosas e é tão bom rir com quem conhecemos bem! Passei também a ter os “amigos” do facebook que estão sempre ali à distância de um clique. É bom partilhar sorrisos e sabe bem receber conforto quando precisamos e nisso os “amigos” facebokianos são The Best!

Dei por mim a saborear a vida com mais tranquilidade e dar atenção a pormenores que me passavam despercebidos. Deixei de viver numa busca alucinada por respostas que não encontro. Aprendi a contornar o que não me faz bem e deixar de dar importância ao que na verdade não interessa.

Continuo a ser um poço de saudades sim, continuo uma lamechas é verdade, mas no que respeita a sentimentos, vivo-os muito intensamente e para mim só assim faz sentido viver.

Aprendi que o melhor investimento que posso fazer é em mim mesma, sinto-me bem (quase) todos os dias. Sou mais forte do que pensava ser, quando me surpreendi a ultrapassar situações dolorosas quer física quer psicologicamente. A vida às vezes prega-nos partidas, mas depois dos trinta constatei que o caminho a seguir é o mesmo, só muda a forma de caminhar. Aprendi a viver o aqui e agora sem esperar muito pelo amanhã. O que tiver que ser será, mas continuo a lutar pelo que quero e não esquecendo, claro, que da minha lista de objectivos de vida, ainda tenho uns quantos a realizar!

Depois dos trinta, acho que me auto mediquei, estou com quem gosto e me faz sentir bem e não tenho paciência para agradar a gregos e troianos, ou sim ou não. Eu, sou simplesmente Eu.

E é isto. Depois dos trinta e alguns… Apercebo-me que a minha postura perante a vida é diferente e como já li algures: A Mulher depois dos trinta é Leoa!

Sou trintona e tenho que admitir, eu sou o máximo J

17 de março de 2014

6 meses de Moçambique


 
Faz hoje precisamente 6 meses que embarquei nesta nova aventura de vir viver para Moçambique. Para mim parece que passou 1 ano, aqui o tempo abranda, respira-se mais devagar, tudo flui em câmara lenta. Posso dizer que tenho mais qualidade de vida, mas as saudades…

Ao final de 2 meses senti muitas saudades da família, dos amigos, da facilidade de ter tudo "à mão", e quanto mais o tempo passava mais saudades sentia, mas também mais facilmente me adaptava a esta terra africana. Um misto de sensações que de alguma forma me foram deixando encaixar neste canto do mundo e devagar me fizeram sentir em casa.

Ao final de 6 meses o balanço é positivo e este foi o tempo que eu e o meu marido estipulámos para ver como tudo corria e se nos adaptaríamos ou não a fazer planos para vivermos aqui. Temos viagem marcada de regresso a Lisboa no final de Março e lá então iremos tomar novas directrizes para então continuarmos por terras de África.

O mais difícil para mim, foram e continuam a ser as saudades da família, dos amigos, enviar um simples sms e marcar uma saída com as amigas, sinto falta de acompanhar de perto o crescimento dos meus sobrinhos. De ir buscar o meu tesouro precioso à escola e passarmos o final de tarde juntos num jardim, lamento ter falhado a festa do seu 7º aniversário e não ter assistido aos primeiros passos do mais pequenino que tem apenas 16 meses. Mas o skype tem sido um bom amigo e permite que tudo seja mais fácil e mesmo quase a 9.000,00Km de distância marcamos o ponto diariamente e lá vamos contornando a saudade e a distância física a que nos encontramos.

Tudo na vida é uma questão de tempo para nos adaptarmos a novas situações e claro que boa parte para que tudo corra pelo melhor, depende de nós próprios.

A minha vida mudou e muito desde há 6 meses. Para melhor, sem dúvida. Sair da minha zona de conforto e viver num país onde o acesso aos vários “luxos” que estava habituada não existem ou são escassos foi um verdadeiro teste para mim. Passei com distinção, devo dizer. O clima quente, uma cidade que se torna pequena pelos lugares que se frequenta e onde quase todas as caras são familiares, são alguns dos factores que me fazem sentir muito confortável em Maputo.

Iremos com toda a certeza marcar viagem de volta a Moçambique e desta vez sem data de regresso a Lisboa, pois a nossa vontade é a de permanecer por tempo indeterminado nesta terra vermelha.

Fui conquistada por terras de África!

 

10 de março de 2014

Pesadelo em Maputo (parte II)

 
 

E quando se diz que um mal nunca vem só… Cada dia uma surpresa.

Bateram no nosso carro, não foi um acidente de circulação, estava bem estacionado, mas simplesmente alguém foi direitinho contra o nosso Toyota. O meu marido chega e vê uma multidão de gente em redor do carro. É de imediato abordado pela responsável, que assumiu a culpa a dizer que se enganou e em vez de marcha atrás, carregou a fundo no acelerador e levou à frente 3 viaturas…

Chamaram a polícia para dar conta da ocorrência, mas passados 40m sem aparecer ninguém decidiram todos dirigirem-se à esquadra. O auto do sinistro foi feito. Nada de computadores, tudo manual, mas até que foi rápido.

Apesar do nosso carro ter ficado com a porta do condutor para dentro, circulava. Até ao dia seguinte, quando insiro a chave na ignição e o motor simplesmente não liga, não dá sinal, nada. Sem carro, andar a pé em Maputo com o calor que se tem feito sentir, é sinónimo de sauna. No problem, táxi para cima, táxi para baixo.

Não, mas as situações não ficam por aqui… Como já disse mudámos de casa (que curiosamente fica ao virar da esquina da mesma rua onde morávamos). O apartamento foi totalmente remodelado com direito a electrodomésticos novinhos a estrear. Quando uso a máquina de lavar roupa pela primeira vez e esta chega ao programa de centrifugação, oiço um estrondo enorme, vou a correr até à cozinha e vejo a máquina a saltar! A força era tal que empurrou o frigorífico que estava mesmo ao lado.

Previamente, foi necessária a instalação dos tubos de entrada e saída de água. Estiveram responsáveis por esse trabalho um canalizador e um electricista, que supostamente deixaram a máquina pronta a usar, mas só se esqueceram de um procedimento básico: aplicar os parafusos que fixam os pés à máquina, que é a primeira informação que vem no livro de instruções (que estando em inglês, acredito que nem lhe tocaram) pois claro que isso não foi feito e a máquina mais parecia uma bailarina numa pista de gelo. Como se não bastasse, os parafusos e as bases para os 4 pés “desapareceram” calculamos que tenham deitado fora… Estamos sem máquina de lavar, a área da lavandaria da casa não tem tanque e a Luísa, coitada, lá vai tratando de alguma roupa como pode.

Volto a relembrar as situações que aconteceram:
  • A casa (anterior) ia pegando fogo
  • A casa de banho (da casa anterior) foi invadida pelos dejectos da vizinha
  • Tivemos que procurar e mudar de casa de um dia para o outro
  • Ficámos sem chave da nova casa durante 3 dias
  • Ficámos sem carro
  • A máquina da roupa “ganhou vida própria”

Não são situações graves, é um facto, mas já lá vão 2 semanas non stop, o que é que se passa aqui???

Daqui por 3 semanas viajo para Lisboa e até lá espero que tudo se recomponha. Tendo em conta os últimos acontecimentos, we never know…

África e os problemas do dia-a-dia.




4 de março de 2014

Pesadelo em Maputo




Esta semana foram manhãs de filme! Cada dia aqui tem os seus problemas, mas os últimos não lembram a ninguém…

Há uns dias quando o meu marido acordou, por volta das 6h da manhã, de repente só oiço "NÃO VÁS À CASA DE BANHO!" com a voz mais assustada que pensei que estivesse lá uma cobra ou coisa assim.

Então o que aconteceu: a nossa loiça sanitária (sanita mesmo) estava cheia da descarga da vizinha de cima!!! De repente ouvimos alguém puxar o autoclismo, olhamos um para o outro e ficamos em pânico, fui a correr de pijama tocar aos vizinhos e dizer que não podiam usar a casa de banho, foi um filme, o meu marido ia vomitando, eu liguei logo a uns canalizadores e passados 20m chegaram, nem queria acreditar na rapidez!

Conseguiram resolver tudo numa hora. Nunca pensei assistir a uma cena destas em directo e ao vivo na casa onde vivemos…

Ah! Para não falar que tivemos que procurar e mudar de casa de um dia para o outro, porque a senhoria insiste em receber em dólares (que aqui está cada dia mais difícil obter) pedimos para pagar na moeda local pelo menos metade do valor, mas não quis saber. No mesmo dia a Luísa liga-me apavorada a dizer que a dona da casa a deixou na rua e colocou cadeados nos portões. Literalmente rua connosco! Falámos com a Senhora, explicámos que não pode fazer o que fez até porque a data estipulada para pagamento é o dia 5 de cada mês (neste caso Março) e ainda estávamos no final do mês de Fevereiro (está mal habituada, uma vez que fazemos sempre o pagamento um mês adiantado). Dissemos que iríamos fazer queixa na polícia. Lá foi retirar os cadeados e nós em 2 dias procurámos e mudámos de casa.

Finalmente depois da mudança feita, respiramos aliviados. Saímos para almoçar e a chave da nova casa (a única) ficou presa na fechadura… Informámos a senhoria e enviou um chaveiro que demorou 3 dias a chegar à conclusão que era necessário uma nova fechadura.

Ora vejamos, no espaço de uma semana:

·         A casa ia pegando fogo (post anterior)

·         A casa de banho foi invadida pelos dejectos da vizinha

·         Tivemos que procurar e mudar de casa de um dia para o outro

·         A chave da nova casa prega-nos uma partida

Mas fora isso… está tudo bem! Vale-me o pôr-do-sol que continua a ser um momento mágico ao final do dia.

Foram os nossos últimos dias em terras de África…

17 de fevereiro de 2014

Rotina não existe

 

Chegou o tão esperado dia 14 de Fevereiro, o dia de São Valentim! Que é celebrado afincadamente pelos moçambicanos. Trânsito medonho, que quase não existe em Maputo, vendedores de flores que se triplicam pelas ruas da cidade e os restaurantes com reservas lotadas para o dia mais aguardado do ano!

Saímos para jantar, já preparados para voltar para casa se houvesse filas de espera intermináveis. Entrámos no Mundos, restaurante com um conceito agradável e que tem a particularidade de estar sub-dividido em 3 espaços diferentes, um pub estilo bar inglês, uma área com ecrãs gigantes e outro espaço mais reservado e intimista e claro mais procurado nessa noite. Todos eles em espaço aberto. Uma vez que não fazem reservas, aguardámos cerca de 20m e jantámos tranquilamente.

Tudo estava a correr bem, até começarem a aparecer visitantes indesejadas, as amigas baratas voadoras! Há pois foi, eu levantei-me assim que vejo a primeira, digo ao empregado e ele sorri e acena com a cabeça como quem diz, sim sim também já a vi, mas nada fez. A segunda visitante surgiu numa mesa em que estava um grupo de italianos e se começam a ouvir alguns gritos femininos, penso que essa terminou a vidinha dela mesmo aí… A terceira visitante da noite surgiu mesmo debaixo da nossa mesa e foi o casal da mesa ao lado que nos avisou. Ok, por hoje chega, sorte a nossa que já estávamos a terminar a sobremesa, pedimos a conta e fomos embora.

Estava também no restaurante um grupo de meninas, algumas pareciam ter menos de 18 anos, com ar de mulher fatal, todas com os seus vestidos vermelhos, bem maquilhadas a aguardarem a sua “sorte”. São as meninas das noites de Maputo. Passados 5m de se sentarem, são abordadas por europeus que procuram uma companhia feminina. É comum por aqui vê-los descontraidamente acompanhados por jovens moçambicanas.

Nos dias seguintes Maputo volta ao seu ritmo habitual. Excepto hoje uma pequena situação que aconteceu com a Luísa, a nossa empregada. Perto da hora de almoço recebo um telefonema do guarda a pedir que fosse com urgência para casa porque ela estava do lado de fora sem chave e com o "fogo aceso". Lá fui e quando chego está toda a gente do prédio na rua, vá lá que somos apenas 3 moradores e um se encontra de férias, por tanto estava  a minha vizinha, as duas  empregadas dela, a Luísa e os guardas. Mal abro a porta e a casa está cheia de fumo branco (frigideira com azeite ao lume) mais 2 minutos e não tinha a mesma sorte… A Luísa estava tão nervosa que nem conseguia olhar para mim. Coitada, não parava de se desculpar a dizer que desceu só para comprar alface. Expliquei-lhe que nunca pode sair de casa com o fogão ligado porque até se pode sentir mal e demorar mais tempo , exclamou um “aaah” que foi como quem diz “pois é, nunca pensei nisso”!

Depois de 1h com portas e janelas abertas o fumo desapareceu mas o cheiro medonho a azeite quente ainda ficou, eu que nem gosto de fritos, mas nesse dia a Luísa disse que ia fazer um prato novo de frango com ovo e estava tão entusiasmada que nem perguntei como era. Mas tenho a dizer que estava delicioso e tinha também preparado pêra-abacate com açúcar e limão (uma bomba calórica) que estava simplesmente divinal!

Por aqui a rotina não existe, cada dia é um dia diferente com as particularidades de uma terra africana.

10 de fevereiro de 2014

Islam



Sempre me intrigou os diversos estilos das mulheres muçulmanas. As que usam hijab (véu), as que não usam, as que mostram o rosto completo, as que apenas mostram os olhos, as que usam abaya (vestido). Enfim.

Este fim-de-semana, numa ida ao parque aquático de Maputo, era ver a piscina cheia de mulheres muçulmanas felizes e contentes. Até aqui tudo bem, não fosse o facto de entrarem na água completamente vestidas, algumas tinham só mesmo os olhos visíveis… Parecia que estávamos numa cena de um filme e não fazíamos seguramente parte do elenco, homens com as suas barbas compridas encaracoladas, mulheres de vestidos a entrar na piscina com a elegância que parece nascer com elas, as crianças bem comportadas, nada de gritos ou correrias, parecia tudo ensaiado. Verdade verdadinha!

Muitos muçulmanos acreditam que o livro sagrado islâmico, o Alcorão, e outras fontes de estudos, como Hadith e Sunnah, exigem que os homens e as mulheres se vistam e se comportem modestamente em público.

Ora assim o fazem. Vou apenas falar das mulheres. O hijab esconde os cabelos, as orelhas e o pescoço, e só deixa visível o rosto. O niqab cobre todo o corpo e só deixa os olhos da mulher de fora, geralmente a roupa é toda preta e muitas ainda usam luvas. O Profeta Maomé cobria a face e as mãos quando estava em público e, por isso, é comum ver mulheres islâmicas imitá-lo em sinal de religiosidade. Diferente da burca que nem os olhos mostra, tem uma rede e é de cor azul.

Os países de religião cristã ainda vêem com receio o uso da burca. Isto porque acham que a roupa cobre demais a pessoa e pode ser usada por criminosos. Daí a razão de países como a  França e a Holanda terem proibido o seu uso.

Confesso que me faz alguma confusão cruzar-me diariamente com mulheres que escondem o próprio rosto, mas vivo actualmente num país multicultural e eu não tenho de compreender por que razão usam véu, não tenho que aceitá-las, nem sequer concordar com elas. Tenho simplesmente que respeitar.

Eu tento ser discreta, mas tenho que admitir que é uma proeza manterem-se debaixo das vestes com temperaturas acima dos 35 graus! Impossível ficar indiferente!

Bem, no Aquapark eu, a minha amiga e a filha quase a completar 2 anos de idade, deliciámo-nos entre banhos de sol e os poucos escorregas que o parque oferece, mas foi sobretudo uma experiência diferente estarmos rodeadas de muita "escuridão", ora de um lado as mulheres muçulmanas com os seus vestidos e burkinis de cor preta e do outro os nativos moçambicanos. Para além de nós, estavam 2 casais com crianças, que pareciam ser holandeses. É de salientar que sendo a entrada apenas 200Mt por adulto (aproximadamente 5,00€) não está ao alcance da maioria da população local e só pessoas com algum status frequentam estes locais. Tenho ainda a dizer que apesar da quantidade de pessoas que estavam no parque, o espaço é grande e não se fez sentir qualquer tipo de confusão, até porque a comunidade muçulmana (que estava em maior número) prima pela descrição e boa educação e apenas se ouviam os risos das crianças que fazem parte da envolvência de qualquer parque aquático.

Foi mais um dia de sol quente em terras de África.

4 de fevereiro de 2014

África é para Guerreiros


 
Como já ouvi alguém dizer “África é para guerreiros” e sem dúvida que o é!

Os meus primeiros dois meses a viver em Moçambique, foram a descoberta de um mundo novo e completamente diferente de tudo o que estava habituada até então. Sentia-me como se estivesse de férias e absorvia tudo com grande intensidade. Os lugares, os costumes, as pessoas, tudo me fascinou!

Sair de manhã cedo para o escritório, muitas vezes a pé a sentir os raios de sol, trabalhar com uma vista fantástica sobre a cidade de Maputo e assistir ao pôr-do-sol foram e continuam a ser as principais razões pelas quais Moçambique me conquistou.

A vivência diária com a realidade de Moçambique é um verdadeiro teste à nossa capacidade de adaptação. Se não tivermos uma boa base de apoio a nível pessoal e financeiro, a permanência por terras de África pode tornar-se numa experiência menos positiva. Vir para Moçambique é um desafio.

Todas as semanas há empresas portuguesas a chegar a Maputo em busca de novas oportunidades. As grandes empresas têm já o seu nome como garantia no mercado, já as pequenas e médias empresas têm que suar muito para vingar por aqui. Não só porque a economia moçambicana é fechada e o mercado é pequeno, mas também porque a concorrência é cada vez mais forte. Países como a China, a Índia e a Turquia estão a entrar em força nesta terra de África.

Investir em Moçambique é difícil. As burocracias são muitas e demora até que esteja tudo operacional. Para não falar nos custos associados com vistos, aluguer de casa e espaços comerciais, que são bastante caros. O mercado leva tempo a responder e até começar a haver lucro é preciso ter paciência e ser muito prudente, ora nem todos têm este perfil.

Quem vem com contrato de trabalho é mais fácil, os gastos são suportados pelas empresas e é chegar e aproveitar a beleza desta terra, ainda assim há quem passe o tempo a fazer comparações com Portugal, erro fatal. Moçambique não é um país desenvolvido, esteve em guerra há 21 anos! África não é a Europa.

África é para guerreiros.

28 de janeiro de 2014

Desodorizantes precisam-se



Quem é que já não passou pela maravilhosa situação de ir num transporte público e ao nosso lado sentar-se alguém que emana um odor menos agradável?

Pois é, em Moçambique a maior parte da população, que vive no limiar da pobreza, como é óbvio não tem dinheiro para comprar desodorizantes, por isso imaginem o que é andar nas ruas de Maputo, na baixa da cidade, nesta época de picos de calor… Só mesmo quase sem respirar!

Eu que sou “esquisitinha” por natureza com cheiros e outras coisas mais, confesso que ainda não sei bem como é que me adaptei tão facilmente a viver em Moçambique e deixar estas esquisitices de lado!

A Luísa, a nossa empregada, como já tive oportunidade de referir aqui, é uma querida e faz toda a lida doméstica com muito empenho e dedicação e sempre a cantar. Mas ultimamente, apercebo-me que mal entra em casa, fica um cheiro a transpiração que não lembra a ninguém! Fui directa ao assunto e perguntei-lhe se usava desodorizante, claro que sabia qual seria a resposta. No dia seguinte entreguei-lhe um kit composto por um sabonete, uma toalha e um desodorizante. Agradeceu, ficou mesmo muito contente! Optou por deixar cá em casa para usar sempre que chega. As moçambicanas são muito vaidosas e a Luísa não é excepção. Assim que chega dirige-se à zona da lavandaria (uma área fora da casa mas com acesso pela cozinha onde, neste caso, só a Luísa tem acesso. Todas as casas aqui têm uma zona de lavandaria) e trata de dar o devido uso ao kit. Luísa feliz e casa limpa a cheirar bem!

O meu marido depois de ter visto como resolvi este assunto com tanta descontracção decidiu oferecer também um desodorizante ao contabilista da empresa, que diz não usar nada por ser alérgico… Deu-me vontade de rir!

É que não percebo como é que não sentem o cheiro, faz-me uma confusão tremenda! Eu chego a entrar no elevador do edifício do escritório e sair de imediato tal é o aroma que ali vai!

Mas eu não consigo disfarçar nada estas situações, já em Lisboa, tantas e tantas vezes no percurso casa-trabalho no metro, quando começava a sentir um “perfume” maravilhoso perto de mim, levantava-me de imediato e ia para o mais longe possível!
 
Aqui ou em qualquer parte do mundo, maus odores quero é distância!
 

19 de janeiro de 2014

Xipamanine


 
Finalmente fui a Xipamanine!
Xipamanine é um mercado que tem mais de 40 anos e continua a ser muito popular. Conhecido pelas “ruelas” de mercados desorganizados, os habitantes locais frequentam este bazar porque conseguem comprar produtos a preços acessíveis.

Já há algum tempo que queria conhecer este mercado, mas existem muitos carteiristas e disseram-me que não convinha ir sozinha. Assim que surgiu a oportunidade fui conhecer o “coração” de Maputo. Sem nada de valor, lá fui!

Quase a chegar levamos uma eternidade para percorrer 200m, chapas cheios de gente (meio de transporte utilizado como autocarro, com capacidade para 9 a 12 pessoas e onde se vê com frequência saírem de lá 20 pessoas ou mais), polícias que dificultam ainda mais o trânsito, pessoas a atravessar a estrada constantemente, arrumadores que vão ao encontro dos automobilistas, a estrada enlameada, lixo e restos de comida no chão, confusão total!

Estacionamos o carro e vejo centenas de pessoas. À entrada existem lojas de capulanas e entro para constatar os verdadeiros tesouros de desenhos e padrões de que me falaram. Confirmadíssimo, comprei 6 capulanas!

Ao sair, como que a fazer a transição para outra zona, estão alinhados alguns homens sentados nas suas máquinas de costura a realizar todo o tipo de trabalhos, não vi uma única mulher, achei curioso.

Há uma zona que vende camas, passei também por uma ourivesaria num “quiosque” que diz vender alianças para casamentos. Humm… Ouro? Não me parece…

Quando começo a subir o mercado, vejo num dos lados meninos a realizarem autênticos trabalhos de manicure. Mais uma vez todos do sexo masculino. Cada um com o seu material devidamente organizado, composto por  frascos de verniz de todas as cores encaixados numa tábua de madeira. Contei 19 mulheres sentadas lado a lado como se estivessem num salão de beleza a tratar as mãos e os pés!

Vamos entrando e a confusão aumenta! Na rua não há espaço para mais vendedores, mas parecem nascer ali e surgem cada vez mais! Os corredores estreitos permitem a passagem apenas a uma pessoa. Encontra-se de tudo, existem zonas de roupas usadas da “calamidade” (doadas por Portugal e que são vendidas aqui), cortinados, produtos naturais, ervas, especiarias, frutas, arroz, café, tabaco ainda por tratar vendido em molhos, zonas com camarão seco, corais, produtos de feitiçaria, perguntei algumas coisas que não sabia o que eram e havia de tudo, desde dentes de leão e tubarão, pêlo de macaco, pau-preto e marfim, pó de chifre de rinoceronte, uma panóplia de artigos que infelizmente confirmam a continuidade da caça furtiva...

Dizem as pessoas que aqui vendem, que passam quase 24h por dia nas suas bancas para não perderem o lugar. Alguns produtos servem também para troca directa entre os próprios vendedores.

Eu queria mesmo era sentir a realidade que se vive em Xipamanine, já que ouvi falar tanto e por mais que descreva o que ali se passa, só lá estando para sentir o coração bater mais forte!

Consegui levar a minha máquina fográfica e voltar com ela, o que dizem ser uma raridade… A verdade é que não senti qualquer tipo de perigo enquanto lá estive, por tanto, tenho algumas imagens do famoso Xipamanine, tiradas by me!

África é genuína e são estas experiências que me fazem gostar mais e mais desta terra tão quente em sensações!

13 de janeiro de 2014

Baratas


 
Dias antes de vir para Maputo tinha algumas questões que eram um verdadeiro “bicho-papão” na minha cabeça. Os mosquitos e consequentemente a Malária, os répteis, o lixo nas ruas, as baratas que todos diziam existir, fiquei completamente horrorizada.

A verdade é que desde que cheguei a Moçambique me fui abstraindo dessa realidade. A Malária deixou de me assombrar, sei os cuidados a ter e isso basta. Passei a ter uma osga de estimação, salvo seja, pois por mais que seja empurrada para fora da varanda, no dia a seguir lá está ela no mesmo sítio e quando chove, não sei como, entra dentro de casa e permanece imóvel no tecto da casa de banho, só dou conta porque o Merlin (o meu gatinho) dá o alerta a qualquer ser que invada o seu território e felizmente para mim, sei de imediato quando tenho visitas indesejadas dentro de casa.

Posto isto, passei a ter uma atitude muito mais descontraída com a fauna de Moçambique e até vou ao encontro dos lagartos gala-gala que se cruzam no meu caminho. Baratas, nunca tinha visto nenhuma até há dois dias atrás.

Estava eu em casa, abro a porta da varanda e entra qualquer coisa para a sala. Uma barata!!! Pára tudo! Soltei um grito, subi para o sofá que estava mesmo ali e começo aos saltos com receio que estivesse em cima de mim. O meu marido não parava de rir, o Merlin corria atrás dela, parecia um filme! Até ao momento em que a bela baratinha resolve voar! Ficámos os 3 parados a olhar e foi o pânico, o meu claro!

Depois de nos vermos livres da bela criatura, fui ver a casa toda, não fosse ter vindo acompanhada. Parece ter sido a única. Detesto-as (acho que toda a gente partilha do mesmo sentimento) são rápidas, silenciosas, muito feias e ainda por cima voam!

Mas a saga da barata não termina aqui. No dia seguinte quando estou a sair com o carro do estacionamento, vejo que estavam cerca de 10 baratas ou mais,  exactamente no sítio onde tinha o carro. Socorro! Numa fracção de segundos pensei que alguma poderia ter entrado para o carro. Saí porta fora e afastei-me saltitando (depois de ver que as baratas moçambicanas voam, o melhor é estar o mais longe possível). Quando procuro pelos guardas, estão os 2 a olhar para mim com o ar mais admirado que já vi. Pergunto se não tinham visto as baratas e respondem com toda a calma típica daqui, que hão-de tirá-las. Pedi-lhes que as tirassem imediatamente e que estivessem atentos. Acho que se não lhes dissesse nada ainda estavam a olhar para mim.

A razão pela aparição destas maravilhosas criaturas é simples, nos últimos dias choveu bastante, as fossas ficaram entulhadas, as águas pluviais transbordaram e com elas as baratas vieram à superfície…

Pela primeira vez desde que aqui cheguei desejei estar na minha casa, em Portugal.

Só espero que o desentupimento das sarjetas se faça o mais rápido possível, mas a avaliar por tudo aqui, temo que leve algum tempo até a cidade ficar livre destas visitantes indesejáveis…
Foi a minha estreia com baratas, nunca antes tinha visto alguma.

7 de janeiro de 2014

Maputo deserto


 
A última semana do ano em Maputo foi passada de forma muito calma, calmíssima mesmo, pois a cidade estava deserta. As escolas estão em período de férias grandes, Dezembro equivale ao mês de Agosto em Portugal e grande parte das empresas também encerram. Gostei de andar nas ruas sem trânsito, sem dificuldade em estacionar onde quer que fosse, na verdade não me desloquei muito, pois quase tudo se encontrava fechado, e uma vez que foi dada tolerância de ponto os supermercados e bancos também estiveram encerrados quase toda a semana. Aos poucos os portugueses e outros europeus vão regressando “à base” e devagarinho o dia-a-dia vai voltando ao normal.

No fim-de-semana fomos ao fish market, escolhemos o peixe que nos apeteceu para almoçar e pela primeira vez aceitámos que fosse cozinhado ali mesmo. Estão sempre pessoas à espera para nos levar para uma espécie de esplanadas reunidas em que cada espaço tem uma cozinha numa "barraquinha" associada e é uma luta a ver quem mais cativa clientes.

Escolhi duas lulas com tamanho considerável, mas quando chegam ao meu prato apercebo-me que só estava uma e meia! Quando chamo a empregada e a confronto com o óbvio, diz com muita naturalidade que foi assim que comprei… Só mesmo aqui realmente, ri-me o que é que podia fazer, não me ia aborrecer porque sei que não ia adiantar nada, é assim em terras de África. Da próxima vez, já sabemos que convém acompanhar o peixe ou o marisco desde a compra até chegar ao nosso prato!

Outra vez fomos também enganados quando comprámos lagostas, escolhemos as que queríamos e o vendedor em algum instante que não nos apercebemos trocou-as e quando pegou nelas para as colocar no saco mexia-as tanto com as mãos que aparentemente pareciam estar vivas, mas não estavam… Eram outras… Temos de estar sempre em cima do acontecimento!

Estamos a entrar no pico do Verão em Moçambique e o melhor da semana foi ter passado o primeiro dia de Janeiro a banhos numa das piscinas dos vários hotéis da cidade. Um belo dia de sol tão diferente do que estamos habituados.

Bem vindo 2014!