29 de dezembro de 2013

Lisboa


 
Após algumas semanas de ausência, estou de volta!

Dezembro é para mim sinónimo de harmonia, calor humano, festa e alegria, mês do Natal e por isso, voei rumo a Lisboa! Foram dias intensos mas que passaram num piscar de olhos, as saudades da família e amigos já eram mais que muitas e soube tão bem receber abraços apertadinhos de quem mais gostamos!

Desta vez senti uma certa nostalgia enquanto preparava as malas de regresso, aquela estranha sensação de ficar com o coração apertado, apesar de gostar de viver em Moçambique, deixar para trás quem gostamos custa sempre…

Chegada ao aeroporto de Lisboa e começam as peripécias. 1ª fase no check-in com uma das malas com 4kg de excesso, eu que peso sempre as malas em casa e estão sempre dentro do que é permitido, desta vez não me apercebi. Lá tivemos rapidamente que fazer umas trocas e levar o excesso na bagagem de mão. 2ª fase na passagem pelo Rx, acusa um objecto estranho na minha mala, abriram, revistaram e após 5 passagens com a mala absolutamente vazia, chegaram à conclusão de que não era nada, como se não bastasse aquando da minha passagem acusa o sinal e fui escolhida aleatoriamente para ser revistada. 3º etapa, quando estamos finalmente sentados no avião, somos informados pelo comandante que o voo está com um atraso de 30m devido a congestionamento no aeroporto. Mas o que é que se passa??? Passado algum tempo lá iniciámos a nossa viagem e como se não bastasse houve forte turbulência a meio do voo durante mais de 20m consecutivos. Definitivamente esta viagem esteve do princípio ao fim em sintonia com a minha vontade em não deixar Portugal…

Chegada a Maputo mal saímos do avião, parece que nos falta o ar, 33graus às 22.20h, bem vinda a Moçambique! Fiquei contentíssima quando as minhas malas são das primeiras a surgir no tapete rolante e mais contente fiquei quando à saída não me pedem para abrir as malas, o que é coisa rara no aeroporto de Maputo…

Mal chego a casa tenho a minha bolinha de pelo à espera e eu cheia de saudades e fica a promessa de que nunca mais o deixarei tanto tempo longe de mim, da próxima vez viaja comigo! Ah, a Luísa deixou-nos preparado um jantar delicioso e um bolo de boas vindas. Caso para usar a expressão "esta Luísa não existe" mas é bem real e está em minha casa!

Já estou a entrar em modo Moçambique novamente e vou continuar a partilhar por aqui as minhas andanças por terras de África!

1 de dezembro de 2013

Devagar

  
Ser estrangeiro em Moçambique requer uma dose de paciência extra, tudo aqui demora uma eternidade, o atendimento ao público é feito devagar, a explicação que obtemos é vaga e se não contratarmos alguém entendido no tratamento dos processos de legalização, a obtenção do DIRE (Direito de Residência) por exemplo, pode demorar meses.

Quando fui levantar o meu documento, que desde há 2 semanas passou a ser obrigatório o levantamento pela própria pessoa, assisti a uma situação no mínimo hilariante. Dirijo-me ao balcão e apesar de não estar ninguém no atendimento, coloco-me na fila. Esperamos, esperamos e passados cerca de 10m entra o guarda daquele edifício, que muito vagarosamente apresenta o local de trabalho às duas recém estagiárias que entraram com ele. Vai ainda procurar alguém que lhes possa dar formação, devagar claro, enquanto eu e mais duas dezenas de pessoas continuamos à espera para ser atendidos. Resolvi aproximar-me e depois de um “bom dia" pergunto se alguém nos vai atender. Resposta muito calma da pessoa que entretanto já estava a dar formação “estou a passar o conhecimento às minhas novas colegas do trabalho, há-de-lhe atender”.  Imaginem a rapidez… Valeu-me o telemóvel com acesso à internet. Saí passados 40m e contentíssima por só ter de lá voltar daqui por 1 ano!

Tudo aqui é feito devagar e quando passamos a viver num país onde as situações burocráticas são tão diferentes e o funcionamento, ou melhor, o mau funcionamento é constante, há que ter a capacidade de não entrar em comparações sistemáticas com Portugal ou com um qualquer outro país desenvolvido. É muito simples, ou nos adaptamos a esta realidade ou vamos passar o tempo todo de testa franzida e inconformados.

Acontece diariamente com a Luísa, a nossa empregada, que aliás, ao contrário do que é habitual, é muito despachada e estamos muito satisfeitos por tê-la a trabalhar connosco. Há apenas um se não, por mais que eu diga que quando sai deve deixar as janelas fechadas porque de repente pode começar a chover, e as chuvas aqui são verdadeiras quedas de água, e que deve colocar o cadeado a trancar o portão, raramente o faz. Optei por deixar um papel escrito na porta, que lê obrigatoriamente antes de sair, e assim evito repetir o mesmo todos os dias… Funciona!

E vou-me adaptando devagar, ao ritmo desta Terra de África.

 

24 de novembro de 2013

Capulanas


A capulana é um tecido característico de Moçambique, segundo dizem, foi trazido da India pelos portugueses no século XIX servindo como moeda de troca e permanece até hoje em todo o país. Mulher que se preze tem uma capulana, seja para vestir, para transportar o bebé nas costas, para a casa servindo como toalha de mesa, cortinado, o que for, a capulana existe em tecido sintético, seda e algodão com cores vivas e está presente no dia-a-dia moçambicano.
Utilizada largamente pela população local, é vendida nos mercados, mas existe uma loja especializada na venda destes panos. Fui à famosa Casa Elefante, onde criam a próprias capulanas e quando entro fico completamente fascinada com as centenas de capulanas que vejo expostas por toda a loja! Depois de olhar, observar e tentar imaginar que padrão ficará melhor para o que pretendo, decido pedir ajuda à empregada que em menos de 2m me traz alguns padrões. Comprei algumas capulanas e o resultado foram 3 calças e um vestido que me assentam como uma luva e uma mala para transportar o meu portátil!

Em Portugal, muitas vezes ir a um Centro Comercial fazer algumas compras, servia como distracção e deixava-me como nova! Aqui vou à feira de artesanato, o meu marido diz em tom de brincadeira que não entende como é que consigo ir ver as mesmas coisas, várias vezes!!! Mas acontece que em cada ida ao mercado vejo uma peça nova, uma tela ou uma escultura em pau-preto que me passou despercebida na visita anterior e fico a conhecer o significado da mesma. Para mim faz todo o sentido compreender esta cultura tão rica em costumes e tradições. Para não falar das capulanas que com as suas cores e padrões, envolvem o espaço com todo o seu esplendor.
Um dia destes estávamos a jantar numa esplanada e  passou um vendedor ambulante com uma tela que me chamou particularmente à atenção. As mulheres com o bebé nas costas, os chapas, o mercado, a cidade em movimento, o dia-a-dia de Maputo estava ali retratado. Comprei a tela e com ela a realidade da cidade em que vivo actualmente e que tanto me cativa!
Moçambique faz bem à alma!

17 de novembro de 2013

Maputo by night


 
Adoro esta hora do dia, em que o sol já se pôs e a noite ainda não caiu por completo,  o crepúsculo. A hora em que respiro fundo e faço a análise desse dia em todos os aspectos.

Normalmente vou a uma esplanada, pois o calor convida a isso mesmo e quase toda a gente faz o mesmo, entre as risadas das crianças que brincam no jardim e o cruzamento das conversas de café, ali estou eu, acompanhada ou não, mas sempre descontraída e tranquila, um efeito que Moçambique passou a ter em mim e me faz sentir tão bem!

Chegar a casa e dar atenção ao meu 4 patas é obrigatório e faz parte desde sempre. Assim que estou abrir o cadeado do portão, antes da porta de casa (normal por aqui) já está em posição de me saltar para os braços e depois de muitas festas e rom rons, a brincadeira segue-se e os próximos 20m são-lhe inteiramente dedicados.
Apesar de termos sempre o jantar já preparado, deixado pela empregada, por vezes apetece-nos jantar fora, e lá vamos a um dos restaurantes da cidade e acabamos por nos cruzar  sempre com alguém conhecido, Maputo não é grande e os locais frequentados tornam-se familiares.

Ir a um bar à noite durante a semana é também muito usual por aqui, uma vez que às 20h já podemos entrar para “beber um copo” e assistir a concertos que acontecem a determinados dias da semana nos vários bares da cidade. Chegamos a casa às 22h e parece que a noite foi longa! E no dia seguinte vamos trabalhar. É uma das coisas que me faz gostar muito de Maputo, aqui não se faz planos, cada dia vive-se de acordo com a nossa vontade e isso vale ouro, pelo menos para mim!

Passados exactamente 2 meses, começo a sentir-me em casa em terras de África!

11 de novembro de 2013

Macaneta


Dia 10 de Novembro é dia da Cidade de Maputo e por isso feriado, mas uma vez que este ano foi um Domingo, passou para 2ª feira... E fim-de-semana prolongado é sinónimo de sair de Maputo e aproveitar o sol!

Conhececi Macaneta, uma localidade que fica a pouco mais de 30 Km da cidade de Maputo.

A aventura começa logo quando atravessamos a curta distância do rio Incomati, através do batelão, uma espécie de jangada em ferro, sendo o único meio existente que faz a ligação entre Marracuene e Macaneta.

O rio é envolvido por pântanos e um processo aparentemente simples do carro entrar para o batelão, exige muito conhecimento e logística, pois dependendo da corrente do rio, o nível da água condiciona e muito a entrada e saída das viaturas para o batelão. Ora bem, os carros são escolhidos de acordo com o peso, primeiro os mais robustos de forma a permitir que os carros mais leves possam subir de seguida com maior facilidade evitando baterem com o pára-choques no chão, uma vez que a inclinação é muito acentuada, e quando me refiro a carros, são  jipes e 4x4, outros automóveis não conseguem passar sequer a 1ª etapa de ir a Macaneta (a do batelão) e as etapas seguintes que são uma verdadeira aventura em terrenos arenosos com uma altura considerada, o que impede muitos jipes seguirem caminho e terem que optar por caminhos mais acessíveis.

Nós seguimos apenas por intuição e deixámos à sorte a praia que iríamos ter acesso. Chegámos a uma praia deserta com uma extensão de areia infinita e conseguimos avistar ao longe grupos de pessoas, por tanto fomos dar a um local mais reservado e tivemos o privilégio de ficar numa praia “privada” e foi usar e abusar de banhos de mar quente até nos cansarmos, o que não aconteceu… Mas ao fim de algumas horas, decidimos ir procurar um restaurante para almoçar.
 
Encontrámos um Lounge, uma propriedade privada que para além de ter espaços destinados a tendas, tem bungalows na areia de acesso à praia e fiquei deliciada já a imaginar os maravilhosos fins de semana que poderei ali passar, conheci mais um paraíso em Moçambique!

A seguir ao almoço voltámos à praia, desta vez a de acesso pelo Lounge, mais frequentada, mas nem por isso menos simpática.

Renovei o meu brozeado e carreguei baterias para os próximos tempos.

Foi mais uma aventura em terras de África!

3 de novembro de 2013

Feira de Artesanato


Em Maputo existe uma feira de artesanato que está aberta todos os dias, um espaço vedado com várias bancas devidamente organizadas, onde encontramos verdadeiras obras de arte e também as famosas capulanas, incluindo as que têm a finalidade de quadro, que se encontram penduras, percorrendo o perímetro de toda a feira.

Existe ainda um mercado, que acontece semanalmente aos Sábados de manhã, que gosto particularmente de ir, onde muitos vendedores e artesãos expõem os seus trabalhos e onde encontramos também muitas peças à base de capulanas e foi engraçado pois fiz as minhas primeiras compras decorativas para a casa aplicando algumas palavras que aprendi em Changana.

Comecei por perguntar quanto custa I malè muni e depois de me responderem afirmo que está caro Xá dula e digo que não quero Nayála. Como não sei muito mais vocabulário para  argumentar, mostro o dinheiro que estou disposta a pagar e o vendedor começa-se a rir, talvez por ter achado piada ao facto de ter falado em dialecto, mas aceita e acabo por trazer duas capulanas quadro, feliz e contente, mais pelo facto de ter conseguido “negociar” em Changana!

Em qualquer mercado local, se não tivermos dinheiro certo para facilitar o troco, confiam em nós e dizem prontamente Há-de me vir dar amanhã e se voltarmos lá passado uma semana, acreditem que não se esquecem e aparecem para lhes darmos o que é devido. É uma situação comum por aqui, funciona assim mesmo quando estacionamos num sítio que não tem parquímetro e mal saímos do carro aparece sempre um rapaz que diz ficar ali a guardar o carro e quando voltamos, de facto está lá e aguarda ansioso por uns meticais e se o mesmo episódio de não termos moedas se repete, o processo é o mesmo e garanto-vos que não se esquecem nem da nossa cara nem do carro, comprovadíssimo!

Por aqui tudo se há-de fazer, tudo há-de acontecer, um dos verbos que usam bastante. A maneira como falam é curiosa, uma vez perguntei no supermercado se já tinham um produto que procurava há mais de uma semana e obtive como resposta ainda. Sabemos que a seguir vem sempre o não, logo aqui só dizem ainda.

E foi um episódio no Bazara (mercado)

24 de outubro de 2013

África e empregadas domésticas


 
Em Moçambique é habitual que as famílias de classe média tenham pelo menos uma empregada. Trabalham de 2ª a Sábado com horário a acordar, devendo perfazer as 48h semanais, sendo que o vencimento ronda os 3000Mt (equivalente a 75€). Sim, ter empregada doméstica que trata de tudo em casa, desde limpar, tratar da roupa, pequeno almoço, almoço e jantar e até mesmo serviço de baby-sitting, custa quase nada.

Chegar a casa ao final de um dia de trabalho e ter tudo a brilhar e comida feita, para mim é simplesmente maravilhoso! Claro que tendo eu e o meu marido vivido sempre em Portugal, e sabendo as dificuldades que aqui as pessoas passam, decidimos elevar o valor mensal e dispensar os serviços ao Sábado. A Deolinda, a empregada, nem queria acreditar e as coisas foram correndo mais ou menos bem, isto do mais ou menos bem tem muito que se lhe diga, pois hoje sabemos que jamais se pode facilitar alguma coisa à população local, como diz o ditado “damos a mão querem logo o braço” e foi exactamente isso que aconteceu.

Ora vejamos, dissemos-lhe que poderia entrar às 9h e nunca chegou a horas nem sequer avisava que estava atrasada, as faltas eram constantes e sem justificação e algumas vezes tinha eu que telefonar para saber se ia trabalhar. Informei-a que poderia estar à vontade para comer o que cozinhava lá casa, e o resultado foram verdadeiros "assaltos" à dispensa! Situações que se foram arrastando, até ao dia em que chego a casa e está a Deolinda a tomar banho. Pois é, para mim foi o limite! Perguntei-lhe se era habitual fazer isso (pois normalmente chego após a saída dela) e responde a sorrir e muito descontraída que depois do serviço gosta sempre de tomar banho. Disse-lhe que concordo plenamente e é uma atitude muito correcta, mas que o devia fazer na casa dela e não ali.

Uma vez, que fizemos contrato de trabalho, não foi fácil seguir com o despedimento, pois a lei moçambicana protege e muito as empregadas domésticas, e se for por parte de um estrangeiro o processo é bastante dificultado, tem que ser muito bem justificado, devendo primeiro ser feita uma advertência por escrito e se não for suficiente serão necessárias 2 testemunhas, enfim. No nosso caso entrámos em acordo com a Deolinda e o assunto ficou resolvido.

Depois de falarmos com algumas pessoas daqui, percebemos o erro que tínhamos cometido em contratar uma empregada com menos de 30 anos, segundo dizem, acham que “mandam” na nossa casa e fazem o que querem. Por isso, a escolha da empregada seguinte tem alguns critérios de exigência da nossa parte. Ter mais de 40 anos, pois são mais responsáveis, dedicadas e pela idade temem perder o emprego, que é considerado de luxo para as mulheres sem instrução, a maioria. E desta vez, com muita pena nossa, não vamos facilitar o horário, iremos apenas manter o vencimento acima da média, que pensamos ser justo.

Amanhã irei falar com 2 Senhoras que nos foram recomendadas e logo decido!

São 17:30h e já tinha saudades de assistir ao pôr-do-sol, das coisas mais belas de se ver em terras de África!

 Hambanine! (Tchau)

22 de outubro de 2013

Chuva, chuva e mais chuva


Porque nos últimos dias Maputo tem estado debaixo de chuva e devido aos últimos acontecimentos de sequestros que tem mantido toda a gente em alerta, as noites têm sido mais caseiras. Ontem o trabalho seguiu pela noite dentro e eram já 21:30h quando saímos do escritório, não se via ninguém, parecia uma cidade fantasma, apressámo-nos a entrar no carro e ir directos para casa.

Uma vez que estamos na época das chuvas em Maputo, as minhas galochas são as minhas melhores amigas, até porque a falta de passeios e a terra constante que se alastra sobre as estradas convidam a andar confortavelmente com elas calçadas! E cá ando eu de galochas e manga curta, uma vez que a temperatura continua agradável durante o dia.

Tenho conhecido alguns portugueses que tal como eu, vieram recentemente para Maputo. A escassez do mercado laboral em Portugal e a procura de novas oportunidades são as principais causas deste significativo aumento. Actualmente, os países que estão a recrutar mais candidatos portugueses são o Brasil e Moçambique, Angola ainda o faz,  uma vez que têm economias em expansão, com grande necessidade de mão-de-obra qualificada. Por outro lado, são países de expressão lusófona, com uma forte ligação a Portugal e aqui portugueses não faltam!

Claro está que a adaptação não é igual para todos e cada pessoa terá uma experiência diferente, mas o que é curioso é que enquanto em Portugal, no prédio onde morava e onde continuo a ter casa, as conversas com vizinhos não passam de um cumprimento simpático e pouco mais, aqui é fácil dizer-se boa tarde e minutos depois estarmos à conversa numa esplanada com essa mesma pessoa, a união entre os portugueses faz-se sentir!
Mesmo com chuva, é bom estar em Moçambique.

17 de outubro de 2013

Maputo



Faz hoje 1 mês que deixei Portugal e voei rumo a Moçambique!

Quem chega a Maputo pela 1ª vez, dificilmente se imagina a viver aqui. Aconteceu comigo, o impacto de ver as ruas com lixo espalhado no chão, os prédios degradados que mais parecem prisões, onde todas as janelas e portas têm gradeamentos, quer seja no R/C ou no 10º andar e a poluição na cidade, fazem com que a 1ª impressão que se tenha não seja das mais agradáveis.

Existem lixeiras a céu aberto e imediatamente ao lado existem casas onde centenas de pessoas vivem e é comum vermos adultos e crianças em contentores de lixo na tentativa de encontrar algo para comer ou algum objecto que lhes seja útil…

As crianças brincam nos esgotos, sem sequer imaginarem onde realmente estão, não existe tratamento residual de águas e por isso Maputo não é indicado para fazer praia, mas a população local parece não se importar muito com isso e entre mergulhos descontraídos, usam também a praia para festas diárias, e por isso a extensão de areia está constantemente cheia de garrafas e muito lixo.

Claro está, que todas estas situações acontecem na baixa da cidade e não por toda a cidade, e por isso, em alguns locais, como é o caso de Summershield, uma zona de moradias luxuosas, embaixadas e condomínios privados e no Polana Cimento mais central, onde vive a maior parte dos portugueses e outros europeus, a realidade é outra, mais limpa, mais sossegada, mais bonita e por isso mais cara, a qualidade tem um preço e aqui paga-se e muito.

Viver em Maputo é caro, quer em relação às rendas, que para estrangeiros o valor triplica, quer às compras de supermercado que custam também 2 a 3 vezes mais do que em Portugal, isto porque a maioria dos produtos são importados da África do Sul e da Europa. Mas quem vem com visto de trabalho, através de empresas portuguesas e outras multinacionais a vida torna-se facilitada e aliada a todas as características de um país tropical, é fácil gostar de Maputo, afinal vive-se outra realidade, que não a do próprio país…


14 de outubro de 2013

Catembe

 
 
Fim-de-semana quente em Maputo, Sábado o termómetro marcou 43º e saímos para almoçar num dos restaurantes simpáticos da cidade, mas durante a tarde, só conseguimos ficar em casa onde estava tão fresquinho. No dia seguinte a temperatura desceu quase 20º e  apesar do sol parecer tímido, fomos conhecer Catembe, localidade que se avista de Maputo, apanhámos o ferry e em 10m estávamos do outro lado da baía.

Após andarmos 3km de carro, chegamos ao restaurante no Hotel Gallery, esquecido no tempo, mas que em época áurea foi frequentado por distintas figuras políticas e seria um lugar de acesso privilegiado. Constatámos, aliás, que pela sua localização à beira mar, a envolvência das palmeiras típicas em Moçambique e com uma dependência sobre a água, que nos permite apreciar a cidade de Maputo, continua a ser um local de eleição!

Pelo caminho encontramos algumas crianças que não se inibem à máquina fotográfica e até fazem pose, o resultado é uma fotografia simples que é preenchida por sorrisos puros e inocentes. Quando lhes mostro ficam radiantes!

Catembe é um município rural e as poucas casas que tem pertenciam a famílias abastadas da época colonial, actualmente habitadas pela população local. Existem também algumas palhotas, o que torna o local mais autêntico. As estradas são caminhos de terra batida e as comunicações muito limitadas. Tão perto de Maputo e tão longe do desenvolvimento tecnológico, mas talvez por isso Catembe seja ainda dos lugares pouco procurados para viver até porque o acesso por terra obriga a que se faça cerca de 100km, sendo por isso o barco o meio mais procurado para chegar ao outro lado da baía.

De regresso, quando estamos no ferry, apercebo-me de que o número de veículos ultrapassa o que está estipulado e fico surpreendida quando observo uma placa que diz ser proibida a permanência de pessoas nas viaturas e no perímetro onde se encontram as mesmas e que na realidade o barco faz a travessia atolado de gente por todo o lado, incluindo na área destinada apenas aos automóveis! Pareceu-me que fomos os únicos a ficar atentos a esta situação porque todas as pessoas seguiam descontraídas e contentes num passeio normal de Domingo.

Foi mais um dia agradável e continuo a ser conquistada por Moçambique!


11 de outubro de 2013

Realidades


 
Hoje é dia do homem em Moçambique, não por ser dia 11 de Outubro, mas porque é 6ª feira e tendo sido instituído, é vivido com grande dedicação, quero com isto dizer, que é dia de beber até cair, no verdadeiro sentido da palavra.
É comum ao Sábado de manhã vermos jovens a dormir nos passeios, à beira da estrada, onde quer que seja, sem que alguém se importe muito com isso. É o resultado do consumo de uma bebida muito conhecida aqui chamada “Tentação”, uma lata custa 10Mt (o equivalente a 0,25€) pelo baixo custo é das bebidas mais procuradas e muito perigosa, poucos minutos após ser ingerida, qualquer pessoa fica aparentemente em estado vegetativo  durante 10h a 12h, alguns não chegam mesmo a acordar… É uma realidade muito vivida aqui e mesmo sabendo o efeito que esta bebida tem, as pessoas continuam a consumir, até porque é vendida sem qualquer problema.

Quando parei hoje no trânsito, observei um menino que, de carro em carro, batia nas janelas a pedir algum dinheiro, e como este, muitos outros meninos o fazem para sobreviver, são crianças sem casa, que foram abandonadas ou fugiram de instituições de acolhimento e desde cedo sofrem uma dura realidade. Sem sequer nunca terem ido à escola, sem nunca terem tido um afecto, sem nunca terem conhecido um lar, são os meninos de Maputo. Deparada com esta situação, fiquei sensibilizada e quis tanto ajudar que dei uma quantia significativa, mas não consegui parar de pensar de que maneira é que tem vivido aquela criança, que nem 8 anos parece ainda ter. Passamos diariamente ao lado de situações como esta e temos que ter a capacidade de não nos envolvermos emocionalmente, porque não conseguimos ajudar todos e são muitos acreditem.

Em qualquer rua se vê crianças e adultos a vender qualquer coisa, desde fruta, acessórios para automóveis, peças de artesanato, fruta, tudo serve para conseguirem alguns meticais (a moeda de Moçambique) e assim vão vivendo um dia de cada vez sem pensarem no que o futuro lhes reserva.
A realidade de um país tão bonito…

8 de outubro de 2013

A terra da Marrabenta


A Marrabenta é a dança típica de Moçambique e o seu nome deriva da palavra portuguesa "rebentar", foi desenvolvida nos anos 30 em Maputo, na altura ainda como Lourenço Marques, e foi sujeita à influência ocidental. Iniciou-se com artistas masculinos e por isso é comum que muitas bandas sejam compostas apenas por homens, que dançam e muito bem!
Os instrumentos são feitos à mão, a batida do tambor é forte e entre os fios de pesca e latas que se tornam autênticos instrumentos musicais, é impossível não entrar no ritmo moçambicano!
Fomos a um bar típico daqui e percebi que a música africana é uma actividade praticada por qualquer pessoa que a esteja a ouvir, é contagiante e poderosa!
Estar no meio da população local, é sem dúvida uma experiência maravilhosa, dei por mim a dançar, ou a tentar dançar, com mulheres que me puxaram para o centro da pista e me ensinaram alguns movimentos, as mulheres moçambicanas são muito protectoras umas com as outras e senti-me muito acolhida e sem me aperceber ali estava eu a dançar, acompanhando o ritmo da Marrabenta!
A música influencia o modo de vida e apesar da triste realidade do dia-a-dia aqui, as pessoas vivem coloridas, sempre com um sorriso na cara, sem nunca se queixarem dos percalços da vida e acima de tudo em constante movimento!
Moçambique é maningue nice (muito bom)!

5 de outubro de 2013

Mais um dia encantada


Dia 4 de Outubro celebra-se o Dia da Paz e Reconciliação e é por isso feriado em Moçambique. Tendo sido uma 6ª feira muitas pessoas aproveitaram para sair de fim-de-semana prolongado e a cidade de Maputo está quase deserta.

Nós aproveitámos e demos um pulinho a Bilene, a praia que fiquei fã, mas desta vez mais parecia que havia um daqueles festivais de Verão, e tem uma explicação, ficámos a saber que terminou o ano lectivo na África do Sul e a maioria dos jovens passam em Bilene grande parte das férias de Verão com amigos e/ou família. Fizemos um dia de praia e voltámos para casa.

Pelo caminho e sem pressa deixamo-nos envolver pelas paisagens que são magníficas, entre pântanos, plantações intermináveis de canas de açúcar e palmeiras de perder de vista, Moçambique encanta-nos!

Paramos para observar uma comunidade local que vive em palhotas, e mesmo antes de conseguirmos sair do carro, somos envolvidos por dezenas de mulheres que aparecem vindas não sei bem de onde, numa tentativa de venderem qualquer coisa, umas com castanhas de cajú que são muito típicas por aqui, outras com fruta, uma outra com canas de açúcar, vegetais e até peixe que apesar de parecer fresco, deixa sérias dúvidas… Acabamos por comprar alguma fruta e seguimos caminho.

Foi mais um dia em terras de África!

4 de outubro de 2013

A entrar em "modo" Moçambique



Continuo maravilhada com o pôr-do-sol, desta vez assistido mesmo na rua onde moramos.

E ao final de 10 dias o balanço é positivo,  Moçambique tem qualquer coisa de mágico que não sei explicar bem, o cheiro da terra é quente, os dias parecem maiores, tudo é mais calmo e estou verdadeiramente a gostar, para grande surpresa minha!

Vou aprendendo mais sobre a cultura moçambicana e até já sei algumas palavras em Changana, um dos dialectos mais falados em Moçambique. Kanimambo que quer dizer obrigada, Auxene que significa bom dia e Hambanine o nosso tchau!

Já não abdico do Jidungo (piripiri) na comida, até porque fiquei a saber que faz bem à saúde, entre muitas coisas é bom para combater bactérias e aqui convém prevenir.

As frutas são saborosas, principalmente as mangas, que crescem nas árvores que percorrem as avenidas, as tangerinas são mais doces e tudo sabe melhor! Até o simples facto de preparar a mesa para tomar o pequeno almoço ou como se diz por aqui, o mata bicho já faz parte da nossa rotina diária, pequenas coisas que em Portugal fazíamos a correr porque o relógio teimava em nos acelerar o ritmo, mas por terras de África há tempo para tudo!

 

Bilene


Fomos passar o fim-de-semana a Bilene, uma praia de areia branca a 170km da cidade de Maputo, uma viagem que se fazia muito bem, não fossem os mercados locais serem ao longo da estrada e termos que andar em marcha lenta durante cerca de 2h, pela quantidade de pessoas que se fazem atravessar de um lado para o outro. Quando passamos as zonas de mercado, conseguimos carregar no acelerador, mas sem auto-estradas e sempre com camiões durante todo o percurso nunca chegamos ao destino em menos de 3-4h.

Pelo caminho a brisa do ar quase que queima, estão 40 graus e são 17h ou seja, estamos no final do dia e a temperatura teima em não baixar, não fosse o ar condicionado, a viagem era insuportável.

Quando chegamos a Bilene fico maravilhada, só se houve o som da natureza e o cheiro a queimadas, para afugentar os repteis e mosquitos, feitas pela população local que habita em palhotas. Uma das recomendações quando saímos da cidade, é ter muita atenção às cobras, não esquecendo que Moçambique tem a cobra mais venenosa do mundo e é muito comum cruzarem-se no nosso caminho… Tirando essa parte (eu tenho pavor de cobras) espero voltar em breve a Bilene, praias de areia branca, água quente, pouca gente e só moradias típicas ainda da época colonial, um verdadeiro paraíso.

E assim vou sendo conquistada por terras de África.

 

Diferenças culturais


Sabemos que a relação entre os países colonizados não é fácil, e neste momento sente-se que tendem a cortar ou enfraquecer as ligações de Moçambique com as suas raízes europeias (portuguesas) nota-se já que os nomes das Ruas e Avenidas que estavam ligadas a Portugal foram alteradas.

Hoje fomos ao fish market, um mercado onde encontramos todos os tipos de peixe e marisco fresco que possamos imaginar, tem também lá umas barraquinhas típicas onde, se quisermos, cozinham o peixe que acabámos de comprar. Se eu for a este mercado sozinha, a inflação surge de imediato! E vão pedir-me 3 vezes mais do que a um habitante local, o que é compreensível se pensarmos que o salário mínimo em Moçambique são 2,400MT (cerca de 60€).

Ao final de uma semana, aventurei-me a conduzir e quando digo aventurei-me, refiro-me literalmente a uma aventura. Em Moçambique circula-se pela esquerda, o que para mim já é um desafio, mas conduzir onde as regras de trânsito parecem não existir, é uma verdadeira odisseia! Não se respeitam as passadeiras; os piscas para informar a mudança de faixa não são utilizados; é comum um carro parar de repente na estrada sem pré-aviso e o condutor ficar a falar calmamente ao telefone ou com um conhecido que encontrou na rua, parar em qualquer sítio não é problema por aqui!

E é assim por terras de África…

 

Situações...



Chega mais um final de tarde e estou rendida ao pôr-do-sol de Moçambique, ao contrário de Portugal onde o sol cai por trás do mar, aqui permanece bem alto e vai-se desvanecendo no céu e sinto-me uma privilegiada em poder assistir a esta beleza da secretária do escritório.

Nas andanças do meu dia-a-dia, aconteceu uma situação caricata. Ligaram-me do Consulado Português a dizer que me tinha esquecido do meu cartão de cidadão quando fui lá fazer a inscrição. Passei lá para o ir buscar eram 12.57h ao que a Senhora me diz que os serviços estavam encerrados para almoço e reabriam às 13h. Aguardei, quando passados 3m e com toda a calma a mesma Senhora diz “Já está na hora” pega no meu cartão, que estava mesmo ali na secretária, e entrega-me! Esperei religiosamente 3m para a Senhora esticar o braço e me entregar o meu documento… E começo então a aperceber-me  que por terras de África tudo é diferente!

Não me admirei por isso, quando, no dia seguinte me dirigi ao notário, que fecha às 15:30 como qualquer entidade pública aqui, e não me deixaram entrar, questionei o segurança uma vez que eram ainda 15h, ao que me responde que hoje tinha que fechar mais cedo, mas que podia dar um jeito, o que quer dizer que com alguma simpatia da minha carteira, o que chamam aqui de refresco, tínhamos entrada garantida, nem queria acreditar no que acabava de ouvir! Fiquei boquiaberta, mas o Nelson, o contabilista da empresa que estava comigo, explicou-me que por terras de África é normal…

 

2 de outubro de 2013

A adaptação


É aqui que passo a maior parte do dia a trabalhar, ou a tentar, uma vez que o edifício é recente e ainda existem obras a decorrer, o que não liga nada bem com o facto de estar ao telefone e de repente começar a ouvir o barulho estrondoso de um berbequim ou se faltou a luz na noite anterior por 2h ou 3h e as comunicações durante todo o dia são retomadas com grandes falhas, um simples envio de mail torna-se numa tarefa verdadeiramente impossível... Para quem não está habituada a estas situações, não é fácil, mas há que manter a calma, estamos em África.


 A primeira semana foi dedicada a tratar de documentações, e já faço oficialmente parte dos mais de 36 mil portugueses a viver em Moçambique!

Tudo aqui é novidade, ou quase, uma vez que esta não é a minha primeira vez em Moçambique. Viver numa cidade fora da Europa é uma aventura, mas a adaptação está a ser feita aos poucos, aliás conforme o dia-a-dia por aqui, tudo muito devagar...

1 de outubro de 2013

Rumo a Moçambique






Estou aqui e sou feliz
Voei rumo a Moçambique, terra índica de herança portuguesa!
Viajar, é para mim uma paixão, e o “bichinho” ficou desde a primeira viagem que fiz. Por isso, cheia de entusiasmo e de malas feitas, parti para uma nova aventura! Há quem diga que é preciso ter alguma dose de desejo, coragem e determinação, mas a verdade é que senti a necessidade de ir ao encontro dos objectivos de vida a que me propus, e que definitivamente, com muita pena minha, já não passam por Portugal… Por isso, quando a oportunidade surgiu a resposta foi SIM! Vou ali ser feliz!
Vivo num país bonito e em franco crescimento, apesar de ter as dificuldades inerentes a um dos países mais pobres do mundo. Em contra partida as pessoas são simpáticas, simples e muito alegres, onde a música é a alma de Moçambique!
Está a ser para mim um grande desafio e cada passo, uma surpresa. Estou com o meu marido e o meu 4 patas, o que torna tudo mais fácil!
Estou sempre aqui, à distância de um simples clique, a internet e as redes sociais possibilitam essa magia, de estarmos mesmo aqui ao lado, sem que se note a distância física a que nos encontramos.
Estou aqui e sou feliz J