28 de janeiro de 2014

Desodorizantes precisam-se



Quem é que já não passou pela maravilhosa situação de ir num transporte público e ao nosso lado sentar-se alguém que emana um odor menos agradável?

Pois é, em Moçambique a maior parte da população, que vive no limiar da pobreza, como é óbvio não tem dinheiro para comprar desodorizantes, por isso imaginem o que é andar nas ruas de Maputo, na baixa da cidade, nesta época de picos de calor… Só mesmo quase sem respirar!

Eu que sou “esquisitinha” por natureza com cheiros e outras coisas mais, confesso que ainda não sei bem como é que me adaptei tão facilmente a viver em Moçambique e deixar estas esquisitices de lado!

A Luísa, a nossa empregada, como já tive oportunidade de referir aqui, é uma querida e faz toda a lida doméstica com muito empenho e dedicação e sempre a cantar. Mas ultimamente, apercebo-me que mal entra em casa, fica um cheiro a transpiração que não lembra a ninguém! Fui directa ao assunto e perguntei-lhe se usava desodorizante, claro que sabia qual seria a resposta. No dia seguinte entreguei-lhe um kit composto por um sabonete, uma toalha e um desodorizante. Agradeceu, ficou mesmo muito contente! Optou por deixar cá em casa para usar sempre que chega. As moçambicanas são muito vaidosas e a Luísa não é excepção. Assim que chega dirige-se à zona da lavandaria (uma área fora da casa mas com acesso pela cozinha onde, neste caso, só a Luísa tem acesso. Todas as casas aqui têm uma zona de lavandaria) e trata de dar o devido uso ao kit. Luísa feliz e casa limpa a cheirar bem!

O meu marido depois de ter visto como resolvi este assunto com tanta descontracção decidiu oferecer também um desodorizante ao contabilista da empresa, que diz não usar nada por ser alérgico… Deu-me vontade de rir!

É que não percebo como é que não sentem o cheiro, faz-me uma confusão tremenda! Eu chego a entrar no elevador do edifício do escritório e sair de imediato tal é o aroma que ali vai!

Mas eu não consigo disfarçar nada estas situações, já em Lisboa, tantas e tantas vezes no percurso casa-trabalho no metro, quando começava a sentir um “perfume” maravilhoso perto de mim, levantava-me de imediato e ia para o mais longe possível!
 
Aqui ou em qualquer parte do mundo, maus odores quero é distância!
 

19 de janeiro de 2014

Xipamanine


 
Finalmente fui a Xipamanine!
Xipamanine é um mercado que tem mais de 40 anos e continua a ser muito popular. Conhecido pelas “ruelas” de mercados desorganizados, os habitantes locais frequentam este bazar porque conseguem comprar produtos a preços acessíveis.

Já há algum tempo que queria conhecer este mercado, mas existem muitos carteiristas e disseram-me que não convinha ir sozinha. Assim que surgiu a oportunidade fui conhecer o “coração” de Maputo. Sem nada de valor, lá fui!

Quase a chegar levamos uma eternidade para percorrer 200m, chapas cheios de gente (meio de transporte utilizado como autocarro, com capacidade para 9 a 12 pessoas e onde se vê com frequência saírem de lá 20 pessoas ou mais), polícias que dificultam ainda mais o trânsito, pessoas a atravessar a estrada constantemente, arrumadores que vão ao encontro dos automobilistas, a estrada enlameada, lixo e restos de comida no chão, confusão total!

Estacionamos o carro e vejo centenas de pessoas. À entrada existem lojas de capulanas e entro para constatar os verdadeiros tesouros de desenhos e padrões de que me falaram. Confirmadíssimo, comprei 6 capulanas!

Ao sair, como que a fazer a transição para outra zona, estão alinhados alguns homens sentados nas suas máquinas de costura a realizar todo o tipo de trabalhos, não vi uma única mulher, achei curioso.

Há uma zona que vende camas, passei também por uma ourivesaria num “quiosque” que diz vender alianças para casamentos. Humm… Ouro? Não me parece…

Quando começo a subir o mercado, vejo num dos lados meninos a realizarem autênticos trabalhos de manicure. Mais uma vez todos do sexo masculino. Cada um com o seu material devidamente organizado, composto por  frascos de verniz de todas as cores encaixados numa tábua de madeira. Contei 19 mulheres sentadas lado a lado como se estivessem num salão de beleza a tratar as mãos e os pés!

Vamos entrando e a confusão aumenta! Na rua não há espaço para mais vendedores, mas parecem nascer ali e surgem cada vez mais! Os corredores estreitos permitem a passagem apenas a uma pessoa. Encontra-se de tudo, existem zonas de roupas usadas da “calamidade” (doadas por Portugal e que são vendidas aqui), cortinados, produtos naturais, ervas, especiarias, frutas, arroz, café, tabaco ainda por tratar vendido em molhos, zonas com camarão seco, corais, produtos de feitiçaria, perguntei algumas coisas que não sabia o que eram e havia de tudo, desde dentes de leão e tubarão, pêlo de macaco, pau-preto e marfim, pó de chifre de rinoceronte, uma panóplia de artigos que infelizmente confirmam a continuidade da caça furtiva...

Dizem as pessoas que aqui vendem, que passam quase 24h por dia nas suas bancas para não perderem o lugar. Alguns produtos servem também para troca directa entre os próprios vendedores.

Eu queria mesmo era sentir a realidade que se vive em Xipamanine, já que ouvi falar tanto e por mais que descreva o que ali se passa, só lá estando para sentir o coração bater mais forte!

Consegui levar a minha máquina fográfica e voltar com ela, o que dizem ser uma raridade… A verdade é que não senti qualquer tipo de perigo enquanto lá estive, por tanto, tenho algumas imagens do famoso Xipamanine, tiradas by me!

África é genuína e são estas experiências que me fazem gostar mais e mais desta terra tão quente em sensações!

13 de janeiro de 2014

Baratas


 
Dias antes de vir para Maputo tinha algumas questões que eram um verdadeiro “bicho-papão” na minha cabeça. Os mosquitos e consequentemente a Malária, os répteis, o lixo nas ruas, as baratas que todos diziam existir, fiquei completamente horrorizada.

A verdade é que desde que cheguei a Moçambique me fui abstraindo dessa realidade. A Malária deixou de me assombrar, sei os cuidados a ter e isso basta. Passei a ter uma osga de estimação, salvo seja, pois por mais que seja empurrada para fora da varanda, no dia a seguir lá está ela no mesmo sítio e quando chove, não sei como, entra dentro de casa e permanece imóvel no tecto da casa de banho, só dou conta porque o Merlin (o meu gatinho) dá o alerta a qualquer ser que invada o seu território e felizmente para mim, sei de imediato quando tenho visitas indesejadas dentro de casa.

Posto isto, passei a ter uma atitude muito mais descontraída com a fauna de Moçambique e até vou ao encontro dos lagartos gala-gala que se cruzam no meu caminho. Baratas, nunca tinha visto nenhuma até há dois dias atrás.

Estava eu em casa, abro a porta da varanda e entra qualquer coisa para a sala. Uma barata!!! Pára tudo! Soltei um grito, subi para o sofá que estava mesmo ali e começo aos saltos com receio que estivesse em cima de mim. O meu marido não parava de rir, o Merlin corria atrás dela, parecia um filme! Até ao momento em que a bela baratinha resolve voar! Ficámos os 3 parados a olhar e foi o pânico, o meu claro!

Depois de nos vermos livres da bela criatura, fui ver a casa toda, não fosse ter vindo acompanhada. Parece ter sido a única. Detesto-as (acho que toda a gente partilha do mesmo sentimento) são rápidas, silenciosas, muito feias e ainda por cima voam!

Mas a saga da barata não termina aqui. No dia seguinte quando estou a sair com o carro do estacionamento, vejo que estavam cerca de 10 baratas ou mais,  exactamente no sítio onde tinha o carro. Socorro! Numa fracção de segundos pensei que alguma poderia ter entrado para o carro. Saí porta fora e afastei-me saltitando (depois de ver que as baratas moçambicanas voam, o melhor é estar o mais longe possível). Quando procuro pelos guardas, estão os 2 a olhar para mim com o ar mais admirado que já vi. Pergunto se não tinham visto as baratas e respondem com toda a calma típica daqui, que hão-de tirá-las. Pedi-lhes que as tirassem imediatamente e que estivessem atentos. Acho que se não lhes dissesse nada ainda estavam a olhar para mim.

A razão pela aparição destas maravilhosas criaturas é simples, nos últimos dias choveu bastante, as fossas ficaram entulhadas, as águas pluviais transbordaram e com elas as baratas vieram à superfície…

Pela primeira vez desde que aqui cheguei desejei estar na minha casa, em Portugal.

Só espero que o desentupimento das sarjetas se faça o mais rápido possível, mas a avaliar por tudo aqui, temo que leve algum tempo até a cidade ficar livre destas visitantes indesejáveis…
Foi a minha estreia com baratas, nunca antes tinha visto alguma.

7 de janeiro de 2014

Maputo deserto


 
A última semana do ano em Maputo foi passada de forma muito calma, calmíssima mesmo, pois a cidade estava deserta. As escolas estão em período de férias grandes, Dezembro equivale ao mês de Agosto em Portugal e grande parte das empresas também encerram. Gostei de andar nas ruas sem trânsito, sem dificuldade em estacionar onde quer que fosse, na verdade não me desloquei muito, pois quase tudo se encontrava fechado, e uma vez que foi dada tolerância de ponto os supermercados e bancos também estiveram encerrados quase toda a semana. Aos poucos os portugueses e outros europeus vão regressando “à base” e devagarinho o dia-a-dia vai voltando ao normal.

No fim-de-semana fomos ao fish market, escolhemos o peixe que nos apeteceu para almoçar e pela primeira vez aceitámos que fosse cozinhado ali mesmo. Estão sempre pessoas à espera para nos levar para uma espécie de esplanadas reunidas em que cada espaço tem uma cozinha numa "barraquinha" associada e é uma luta a ver quem mais cativa clientes.

Escolhi duas lulas com tamanho considerável, mas quando chegam ao meu prato apercebo-me que só estava uma e meia! Quando chamo a empregada e a confronto com o óbvio, diz com muita naturalidade que foi assim que comprei… Só mesmo aqui realmente, ri-me o que é que podia fazer, não me ia aborrecer porque sei que não ia adiantar nada, é assim em terras de África. Da próxima vez, já sabemos que convém acompanhar o peixe ou o marisco desde a compra até chegar ao nosso prato!

Outra vez fomos também enganados quando comprámos lagostas, escolhemos as que queríamos e o vendedor em algum instante que não nos apercebemos trocou-as e quando pegou nelas para as colocar no saco mexia-as tanto com as mãos que aparentemente pareciam estar vivas, mas não estavam… Eram outras… Temos de estar sempre em cima do acontecimento!

Estamos a entrar no pico do Verão em Moçambique e o melhor da semana foi ter passado o primeiro dia de Janeiro a banhos numa das piscinas dos vários hotéis da cidade. Um belo dia de sol tão diferente do que estamos habituados.

Bem vindo 2014!