18 de julho de 2014

Uma nova Aventura

(foto retirada da internet)
 
Afastada há alguns meses do blog, regresso para dar novidades! Ora esta ausência tem um forte motivo que passo a explicar.

Dias antes do meu suposto regresso a Maputo, tive a melhor surpresa da minha vida, vou ser Mãe! Uma mistura de sentimentos, receios… Uma vez que esta não é a minha primeira gravidez, e todas as que passei foram não evolutivas… Eu e o meu marido passámos 5 anos numa luta constante e em Janeiro de 2013 tivemos a pior das notícias, seria praticamente impossível que voltasse a engravidar, mesmo com algum tipo de tratamento. Desolados, mas sempre a acreditar que talvez um dia fosse possível e sempre pensámos que se tivesse que acontecer, um dia acontecia. Nesse mesmo ano foi quando surgiu a oportunidade de irmos para Moçambique e não podia ter vindo em melhor altura! Mudámos de país, viajámos para outro continente, começámos uma nova vida, conhecemos novas pessoas e toda esta mudança nos fez muitíssimo bem. E foi com uma enorme surpresa que soubemos que estou à espera de um bebé! Sendo uma gravidez que requer alguns cuidados e sempre sob vigia, fiquei “retida” em Portugal e só voltarei a Moçambique no próximo ano.

Nas últimas semanas tudo à minha volta são borboletas e purpurinas! As maravilhas de ser mãe pela primeira vez, os desafios de uma nova jornada que apenas se inicia. Tudo é uma aventura para mim e para o meu marido e estamos a adorar! Já nos sentimos Pais, como é que é possível que um ser ainda tão pequenino nos provoque já emoções tão grandes?

Cada dia é uma meta percorrida e estou ansiosa que chegue a altura de o/a ter nos meus braços!

África mudou a minha vida!


31 de março de 2014

Depois dos Trinta


 
Cheguei a Lisboa na 6ª feira e Sábado foi o meu aniversário. Neste post não vou escrever sobre Moçambique, mas antes uma retrospectiva que dei por mim a fazer depois dos meus trinta anos e que decidi partilhá-la aqui.

A maneira como tenho vivido este dia vai sendo diferente ano após ano. Menos efusiva mas mais enriquecedora. Menos festiva mas mais valiosa. Enfim, aos 18 anos preparava a festa com 2 meses de antecedência. Aos 25, fazer anos era sinónimo de jantarada com os amigos e saída obrigatória com direito a brindes e dançar a noite toda. Aos 30 a mesa de amigos fica mais restrita e as conversas prolongam-se noite dentro entre risadas e boas recordações. E assim vai sendo ano após ano. Este foi uma boa surpresa e tive um dia e noite muito festivo com direito a muitos brindes e muita "alegria" à mistura!

Fazendo uma análise dos projectos de vida a que me propus. Constato que os sonhos que queria ter alcançado aos trinta, chegaram mais tarde e alguns ainda não chegaram. A visão que tinha do amor é diferente, a vida ensinou-me que no que respeita a sentimentos nada pode ser exigido, ou se tem ou não se tem e só podemos dar aquilo que temos. No campo amoroso penso que acertei à primeira e quero que este amor exista sempre!  

No que respeita a amizades, depois dos trinta, as que permanecem na minha vida são valiosas e é tão bom rir com quem conhecemos bem! Passei também a ter os “amigos” do facebook que estão sempre ali à distância de um clique. É bom partilhar sorrisos e sabe bem receber conforto quando precisamos e nisso os “amigos” facebokianos são The Best!

Dei por mim a saborear a vida com mais tranquilidade e dar atenção a pormenores que me passavam despercebidos. Deixei de viver numa busca alucinada por respostas que não encontro. Aprendi a contornar o que não me faz bem e deixar de dar importância ao que na verdade não interessa.

Continuo a ser um poço de saudades sim, continuo uma lamechas é verdade, mas no que respeita a sentimentos, vivo-os muito intensamente e para mim só assim faz sentido viver.

Aprendi que o melhor investimento que posso fazer é em mim mesma, sinto-me bem (quase) todos os dias. Sou mais forte do que pensava ser, quando me surpreendi a ultrapassar situações dolorosas quer física quer psicologicamente. A vida às vezes prega-nos partidas, mas depois dos trinta constatei que o caminho a seguir é o mesmo, só muda a forma de caminhar. Aprendi a viver o aqui e agora sem esperar muito pelo amanhã. O que tiver que ser será, mas continuo a lutar pelo que quero e não esquecendo, claro, que da minha lista de objectivos de vida, ainda tenho uns quantos a realizar!

Depois dos trinta, acho que me auto mediquei, estou com quem gosto e me faz sentir bem e não tenho paciência para agradar a gregos e troianos, ou sim ou não. Eu, sou simplesmente Eu.

E é isto. Depois dos trinta e alguns… Apercebo-me que a minha postura perante a vida é diferente e como já li algures: A Mulher depois dos trinta é Leoa!

Sou trintona e tenho que admitir, eu sou o máximo J

17 de março de 2014

6 meses de Moçambique


 
Faz hoje precisamente 6 meses que embarquei nesta nova aventura de vir viver para Moçambique. Para mim parece que passou 1 ano, aqui o tempo abranda, respira-se mais devagar, tudo flui em câmara lenta. Posso dizer que tenho mais qualidade de vida, mas as saudades…

Ao final de 2 meses senti muitas saudades da família, dos amigos, da facilidade de ter tudo "à mão", e quanto mais o tempo passava mais saudades sentia, mas também mais facilmente me adaptava a esta terra africana. Um misto de sensações que de alguma forma me foram deixando encaixar neste canto do mundo e devagar me fizeram sentir em casa.

Ao final de 6 meses o balanço é positivo e este foi o tempo que eu e o meu marido estipulámos para ver como tudo corria e se nos adaptaríamos ou não a fazer planos para vivermos aqui. Temos viagem marcada de regresso a Lisboa no final de Março e lá então iremos tomar novas directrizes para então continuarmos por terras de África.

O mais difícil para mim, foram e continuam a ser as saudades da família, dos amigos, enviar um simples sms e marcar uma saída com as amigas, sinto falta de acompanhar de perto o crescimento dos meus sobrinhos. De ir buscar o meu tesouro precioso à escola e passarmos o final de tarde juntos num jardim, lamento ter falhado a festa do seu 7º aniversário e não ter assistido aos primeiros passos do mais pequenino que tem apenas 16 meses. Mas o skype tem sido um bom amigo e permite que tudo seja mais fácil e mesmo quase a 9.000,00Km de distância marcamos o ponto diariamente e lá vamos contornando a saudade e a distância física a que nos encontramos.

Tudo na vida é uma questão de tempo para nos adaptarmos a novas situações e claro que boa parte para que tudo corra pelo melhor, depende de nós próprios.

A minha vida mudou e muito desde há 6 meses. Para melhor, sem dúvida. Sair da minha zona de conforto e viver num país onde o acesso aos vários “luxos” que estava habituada não existem ou são escassos foi um verdadeiro teste para mim. Passei com distinção, devo dizer. O clima quente, uma cidade que se torna pequena pelos lugares que se frequenta e onde quase todas as caras são familiares, são alguns dos factores que me fazem sentir muito confortável em Maputo.

Iremos com toda a certeza marcar viagem de volta a Moçambique e desta vez sem data de regresso a Lisboa, pois a nossa vontade é a de permanecer por tempo indeterminado nesta terra vermelha.

Fui conquistada por terras de África!

 

10 de março de 2014

Pesadelo em Maputo (parte II)

 
 

E quando se diz que um mal nunca vem só… Cada dia uma surpresa.

Bateram no nosso carro, não foi um acidente de circulação, estava bem estacionado, mas simplesmente alguém foi direitinho contra o nosso Toyota. O meu marido chega e vê uma multidão de gente em redor do carro. É de imediato abordado pela responsável, que assumiu a culpa a dizer que se enganou e em vez de marcha atrás, carregou a fundo no acelerador e levou à frente 3 viaturas…

Chamaram a polícia para dar conta da ocorrência, mas passados 40m sem aparecer ninguém decidiram todos dirigirem-se à esquadra. O auto do sinistro foi feito. Nada de computadores, tudo manual, mas até que foi rápido.

Apesar do nosso carro ter ficado com a porta do condutor para dentro, circulava. Até ao dia seguinte, quando insiro a chave na ignição e o motor simplesmente não liga, não dá sinal, nada. Sem carro, andar a pé em Maputo com o calor que se tem feito sentir, é sinónimo de sauna. No problem, táxi para cima, táxi para baixo.

Não, mas as situações não ficam por aqui… Como já disse mudámos de casa (que curiosamente fica ao virar da esquina da mesma rua onde morávamos). O apartamento foi totalmente remodelado com direito a electrodomésticos novinhos a estrear. Quando uso a máquina de lavar roupa pela primeira vez e esta chega ao programa de centrifugação, oiço um estrondo enorme, vou a correr até à cozinha e vejo a máquina a saltar! A força era tal que empurrou o frigorífico que estava mesmo ao lado.

Previamente, foi necessária a instalação dos tubos de entrada e saída de água. Estiveram responsáveis por esse trabalho um canalizador e um electricista, que supostamente deixaram a máquina pronta a usar, mas só se esqueceram de um procedimento básico: aplicar os parafusos que fixam os pés à máquina, que é a primeira informação que vem no livro de instruções (que estando em inglês, acredito que nem lhe tocaram) pois claro que isso não foi feito e a máquina mais parecia uma bailarina numa pista de gelo. Como se não bastasse, os parafusos e as bases para os 4 pés “desapareceram” calculamos que tenham deitado fora… Estamos sem máquina de lavar, a área da lavandaria da casa não tem tanque e a Luísa, coitada, lá vai tratando de alguma roupa como pode.

Volto a relembrar as situações que aconteceram:
  • A casa (anterior) ia pegando fogo
  • A casa de banho (da casa anterior) foi invadida pelos dejectos da vizinha
  • Tivemos que procurar e mudar de casa de um dia para o outro
  • Ficámos sem chave da nova casa durante 3 dias
  • Ficámos sem carro
  • A máquina da roupa “ganhou vida própria”

Não são situações graves, é um facto, mas já lá vão 2 semanas non stop, o que é que se passa aqui???

Daqui por 3 semanas viajo para Lisboa e até lá espero que tudo se recomponha. Tendo em conta os últimos acontecimentos, we never know…

África e os problemas do dia-a-dia.




4 de março de 2014

Pesadelo em Maputo




Esta semana foram manhãs de filme! Cada dia aqui tem os seus problemas, mas os últimos não lembram a ninguém…

Há uns dias quando o meu marido acordou, por volta das 6h da manhã, de repente só oiço "NÃO VÁS À CASA DE BANHO!" com a voz mais assustada que pensei que estivesse lá uma cobra ou coisa assim.

Então o que aconteceu: a nossa loiça sanitária (sanita mesmo) estava cheia da descarga da vizinha de cima!!! De repente ouvimos alguém puxar o autoclismo, olhamos um para o outro e ficamos em pânico, fui a correr de pijama tocar aos vizinhos e dizer que não podiam usar a casa de banho, foi um filme, o meu marido ia vomitando, eu liguei logo a uns canalizadores e passados 20m chegaram, nem queria acreditar na rapidez!

Conseguiram resolver tudo numa hora. Nunca pensei assistir a uma cena destas em directo e ao vivo na casa onde vivemos…

Ah! Para não falar que tivemos que procurar e mudar de casa de um dia para o outro, porque a senhoria insiste em receber em dólares (que aqui está cada dia mais difícil obter) pedimos para pagar na moeda local pelo menos metade do valor, mas não quis saber. No mesmo dia a Luísa liga-me apavorada a dizer que a dona da casa a deixou na rua e colocou cadeados nos portões. Literalmente rua connosco! Falámos com a Senhora, explicámos que não pode fazer o que fez até porque a data estipulada para pagamento é o dia 5 de cada mês (neste caso Março) e ainda estávamos no final do mês de Fevereiro (está mal habituada, uma vez que fazemos sempre o pagamento um mês adiantado). Dissemos que iríamos fazer queixa na polícia. Lá foi retirar os cadeados e nós em 2 dias procurámos e mudámos de casa.

Finalmente depois da mudança feita, respiramos aliviados. Saímos para almoçar e a chave da nova casa (a única) ficou presa na fechadura… Informámos a senhoria e enviou um chaveiro que demorou 3 dias a chegar à conclusão que era necessário uma nova fechadura.

Ora vejamos, no espaço de uma semana:

·         A casa ia pegando fogo (post anterior)

·         A casa de banho foi invadida pelos dejectos da vizinha

·         Tivemos que procurar e mudar de casa de um dia para o outro

·         A chave da nova casa prega-nos uma partida

Mas fora isso… está tudo bem! Vale-me o pôr-do-sol que continua a ser um momento mágico ao final do dia.

Foram os nossos últimos dias em terras de África…

17 de fevereiro de 2014

Rotina não existe

 

Chegou o tão esperado dia 14 de Fevereiro, o dia de São Valentim! Que é celebrado afincadamente pelos moçambicanos. Trânsito medonho, que quase não existe em Maputo, vendedores de flores que se triplicam pelas ruas da cidade e os restaurantes com reservas lotadas para o dia mais aguardado do ano!

Saímos para jantar, já preparados para voltar para casa se houvesse filas de espera intermináveis. Entrámos no Mundos, restaurante com um conceito agradável e que tem a particularidade de estar sub-dividido em 3 espaços diferentes, um pub estilo bar inglês, uma área com ecrãs gigantes e outro espaço mais reservado e intimista e claro mais procurado nessa noite. Todos eles em espaço aberto. Uma vez que não fazem reservas, aguardámos cerca de 20m e jantámos tranquilamente.

Tudo estava a correr bem, até começarem a aparecer visitantes indesejadas, as amigas baratas voadoras! Há pois foi, eu levantei-me assim que vejo a primeira, digo ao empregado e ele sorri e acena com a cabeça como quem diz, sim sim também já a vi, mas nada fez. A segunda visitante surgiu numa mesa em que estava um grupo de italianos e se começam a ouvir alguns gritos femininos, penso que essa terminou a vidinha dela mesmo aí… A terceira visitante da noite surgiu mesmo debaixo da nossa mesa e foi o casal da mesa ao lado que nos avisou. Ok, por hoje chega, sorte a nossa que já estávamos a terminar a sobremesa, pedimos a conta e fomos embora.

Estava também no restaurante um grupo de meninas, algumas pareciam ter menos de 18 anos, com ar de mulher fatal, todas com os seus vestidos vermelhos, bem maquilhadas a aguardarem a sua “sorte”. São as meninas das noites de Maputo. Passados 5m de se sentarem, são abordadas por europeus que procuram uma companhia feminina. É comum por aqui vê-los descontraidamente acompanhados por jovens moçambicanas.

Nos dias seguintes Maputo volta ao seu ritmo habitual. Excepto hoje uma pequena situação que aconteceu com a Luísa, a nossa empregada. Perto da hora de almoço recebo um telefonema do guarda a pedir que fosse com urgência para casa porque ela estava do lado de fora sem chave e com o "fogo aceso". Lá fui e quando chego está toda a gente do prédio na rua, vá lá que somos apenas 3 moradores e um se encontra de férias, por tanto estava  a minha vizinha, as duas  empregadas dela, a Luísa e os guardas. Mal abro a porta e a casa está cheia de fumo branco (frigideira com azeite ao lume) mais 2 minutos e não tinha a mesma sorte… A Luísa estava tão nervosa que nem conseguia olhar para mim. Coitada, não parava de se desculpar a dizer que desceu só para comprar alface. Expliquei-lhe que nunca pode sair de casa com o fogão ligado porque até se pode sentir mal e demorar mais tempo , exclamou um “aaah” que foi como quem diz “pois é, nunca pensei nisso”!

Depois de 1h com portas e janelas abertas o fumo desapareceu mas o cheiro medonho a azeite quente ainda ficou, eu que nem gosto de fritos, mas nesse dia a Luísa disse que ia fazer um prato novo de frango com ovo e estava tão entusiasmada que nem perguntei como era. Mas tenho a dizer que estava delicioso e tinha também preparado pêra-abacate com açúcar e limão (uma bomba calórica) que estava simplesmente divinal!

Por aqui a rotina não existe, cada dia é um dia diferente com as particularidades de uma terra africana.